O Presidente francês, Emmanuel Macron, vai visitar oficialmente Angola no segundo semestre de 2019, dando sequência à visita que o homólogo angolano, João Lourenço, efectuou a França em Maio deste ano, disse o embaixador em Luanda.
Falando em Luanda após um encontro no Museu da Moeda, em Luanda, com cerca de 70 empresários franceses presentes em Angola, Sylvain Itté, embaixador francês no nosso país, salientou que a preparação da visita terá de coincidir com a concretização de projectos de investimento francês iniciados com a visita de João Lourenço a França.
A visita do Presidente “deve ser também um momento forte de concretização de projectos que começaram a nascer com a visita do Presidente Lourenço a França”, afirmou Sylvain Itté, acrescentando que, “portanto, há todo um processo e espero que poderemos contar com a visita do Presidente Macron no segundo semestre de 2019”.
Sylvain Itté garantiu, por outro lado, que a companhia petrolífera francesa Total vai continuar em Angola, lembrando que a empresa foi das primeiras a investir no país logo após a independência, em 1975, e que passa, entre outras questões, pela operação na área dos produtos refinados e na abertura de postos de combustíveis.
Segundo o diplomata, a Total está “muito empenhada” no Projecto Eiffel, que abrange escolas públicas angolanas, que financia há 10 anos e que, reivindicou, estão reconhecidas como “algumas das melhores no país”, havendo também projectos de formação de quadros técnicos em vários sectores.
“É uma presença (da França) que espero que vá continuar a desenvolver-se, não só com a Total, mas também com as outras empresas”, sublinhou, exemplificando com a cervejeira Castel, que detém a marca Cuca.
“Muitos não sabem que a Castel é a primeira empregadora privada de Angola. Muitas regiões do país têm uma fábrica da Cuca, que, nalguns casos, é também a primeira empregadora nas cidades onde tem uma unidade de produção”, disse.
O diplomata francês lembrou que a Castel investiu num projecto agrícola de mais de 4.000 hectares em Malanje, para a produção do milho, que é, depois, utilizado no fabrico da cerveja.
“As empresas francesas estão presentes e empenhadas no desenvolvimento do país. Essa presença vai crescer, mas depende também dos investimentos públicos angolanos e da vontade das empresas angolanas investirem directamente no país, pois não devem esperar só o investimento estrangeiro, mas também construir verdadeiras parcerias com empresas estrangeiras e, naturalmente, francesas”, afirmou.
Questionado sobre o volume do investimento francês em Angola, Sylvain Itté indicou que três dos maiores bancos franceses disponibilizaram uma linha de crédito no valor de 1.500 milhões de euros (repartidos equitativamente por 500 milhões de euros entre o BNP- Paribas, o Crédit Agricole e a Societé General).
“Três dos principais bancos franceses disponibilizaram uma linha de crédito, o que significa que há dinheiro disponível para financiar projectos concretos e viáveis do ponto de vista económico a empresas francesas e angolanas”, realçou.
Segundo o embaixador francês em Luanda, actualmente, há cerca de 300 empresas francesas com ligações directas ou indirectas a Angola, país onde operam 70 outras nos mais variados sectores.
Sylvain Itté realçou ainda a presença, em Angola, da Agência de Cooperação Francesa, que financiou dois projectos no valor de 200 milhões de euros, um de distribuição de água potável e outro na agricultura comercial.
“Não é uma questão de saber quanto dinheiro é investido, trata-se de saber, sim, quais os financiamentos disponíveis para as empresas decidirem investir. A parte do Governo francês está feita e as autoridades de Angola declararam e começaram a concretamente a dar condições para o investimento”, sublinhou.
No entanto, admitiu o diplomata francês, “há ainda muito a fazer” para que as empresas estrangeiras se possam instalar em Angola e “não se podem esconder as dificuldades”.
“Mas acho tudo vai melhorar. Da parte francesa, das empresas francesas, há um interesse fundamental em trabalhar com Angola”, disse.
Santos, Hollande, Lourenço, Macron
No dia 28 de Maio o Presidente Emmanuel Macron manifestou, em Paris, “todo o apoio às reformas iniciadas pelo Presidente” João Lourenço. O mesmo tinha feito François Hollande em relação a José Eduardo dos Santos.
“Dou todo o meu apoio às reformas iniciadas pelo Presidente Lourenço. A luta contra a corrupção, a facilitação de vistos para os empresários, homens de negócios ou assalariados e a reforma do quadro do capital da economia que permite limitar os constrangimentos e abrir a economia angolana a parceiros, investidores e actores económicos estrangeiros, a meu ver vão na boa direcção”, afirmou Emmanuel Macron.
O Presidente francês destacou que esse é o caminho para “melhorar o crescimento do país, criar mais oportunidades e mais emprego e acelerar a diversificação da economia que é indispensável nos próximos meses e anos”.
As declarações foram feitas após a assinatura de quatro acordos de cooperação no domínio da defesa, da agricultura, da economia e da formação de quadros, acordos que, no entender de Emmanuel Macron, “vão levar a um maior empenho da França” em Angola.
Emmanuel Macron indicou, por exemplo, que na sequência de um acordo assinado em Março, a Agência Francesa de Desenvolvimento vai investir, numa primeira etapa, 100 milhões de dólares no domínio da agricultura e vai dar uma subvenção de 500 mil euros para a identificação de novos projectos.
O Presidente francês também disse que foram assinados acordos no sector petrolífero e sublinhou que o encontro do Presidente de Angola com 80 empresários franceses no MEDEF Internacional (Movimento das Empresas de França) ia nesse sentido.
Emmanuel Macron declarou-se “muito sensível” por João Lourenço “ter escolhido França para primeiro destino na Europa desde a sua eleição”, manifestou-se “muito empenhado no reforço das relações entre França e Angola” e disse que se trata de uma “etapa suplementar para reforçar a cooperação em todos os domínios”, incluindo o militar e de segurança marítima.
A França foi a primeira visita oficial de João Lourenço a um país ocidental, depois de ter realizado visitas a vários países africanos, como África do Sul, República Democrática do Congo, Zâmbia ou Namíbia desde que foi empossado como terceiro Presidente da República de Angola, em Setembro de 2017.
Em Abril de 2014 José Eduardo dos Santos visitou também França. Almoçou no Palácio do Eliseu com François Hollande, contando as crónicas que o repasto foi concluído com o “armistício” entre os dois países e o reforço das posições francesas na economia angolana e não apenas no sector do petróleo.
Terá sido, de acordo com os relatos da imprensa, uma visita histórica que encerrou o caso “Angolagate” (venda de armamento russo a Angola, processos judiciais em Paris relativos a “infracções à legislação sobre as armas” e alegadas comissões ocultas a personalidades dos dois países).
A visita de José Eduardo dos Santos aconteceu depois de o chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, se ter deslocado a Luanda e a seguir à conclusão, favorável a Angola, em 2011, do processo judicial em Paris (a “justiça” do MPLA não exigiu o envio do processo para Angola…) sobre o “Angolagate”.
Em termos políticos, diplomáticos e de segurança regional, a França contava e conta em África com Angola como aliado estratégico para controlar situações complicadas de crise na República Centro-Africana e na República Democrática do Congo.
José Eduardo dos Santos, que depois seguiu para o Vaticano, fez-se acompanhar por seis ministros (Negócios Estrangeiros, Petróleos, Finanças, Comércio, Ensino Superior e Agricultura) e por diversos empresários angolanos.
Foi igualmente dado um impulso para Paris reforçar posições em Angola no domínio da exploração do petróleo, energia, águas, transportes e finanças.
“Apesar dos fortes litígios políticos, jurídicos e diplomáticos que se verificaram entre ambos os países nos últimos anos, França manteve sempre, através da empresa Total, a maior fatia na exploração de petróleo angolano. A Total produzia, até agora, mais de 600 mil barris de petróleo por dia e pode passar a mais de 800 mil, em 2016, com a exploração de um novo projecto em Kaombo”, escrevia na altura o jornal português Expresso.
Folha 8 com Lusa